quarta-feira, 17 de junho de 2009

Apaixonada por um paquistanes - Parte 9

By Mariyah...

Comecei a de fato gostar de conversar com ele, ia aos poucos ganhando mais e mais conhecimento acerca do mundo de lá, questões políticas e religiosas do Oriente se transformaram num passatempo e, apesar de não ser nenhuma especialista, virei uma referência para os amigos daqui quando tinham qualquer dúvida sobre o assunto (rs).

Várias coisas começaram a fazer sentido pra mim e eu comecei a ficar mais cética em relação àquilo que a mídia transmitia. Alguns preconceitos caíram por terra, enquanto que algumas idéias ganharam força. Passei a ter “opiniões” sobre o assunto. Mas, nem sempre minhas “opiniões” eram as mesmas dele... E, eu adorava confrontá-lo...rs... Debochava do excesso de moralismo, criticava a extrema dependência em relação à família e questionava a religião...

Eu não era precisamente agressiva, era argumentativa... Mas, ele tinha muita paciência... rs...Explicava, justificativa e, quando fazia sentido pra ele, ele mesmo reconhecia isso ou aquilo como um problema da sociedade em que vive...

Enquanto amigos, a gente nunca brigou. Éramos abertos e francos. Quando não nos “encontrávamos” pra discutir o futuro da humanidade, era pra fazer piada ou falar das incertezas da vida. E foi no começo de 2004 que a vida ficou ainda mais incerta pra ele. O pai faleceu. Eu honestamente pouco lembro sobre os fatos. É algo que lamento, porque entendo que naquela época, apesar de gostar das nossas conversas, talvez ainda considerasse nossa amizade algo irrelevante demais pra que eu sentisse em mim a dor. Eu sei que pode soar horrível, é óbvio que eu podia imaginar a tristeza da família que perde um ser amado, mas, na verdade, era o familiar de um estranho.

Não quero ser mal compreendida, então o que possa explicar é que o meu sentimento era o mesmo que a maioria das pessoas tem quando sabe de um algum acidente no noticiário onde pessoas morreram, é desagradável, é triste, mas não nos marca como marcaria se efetivamente conhecêssemos essas pessoas. E por isso lamento, porque se eu tivesse a exata dimensão da dor enfrentada por ele, a qual eu poderia até supor, mas jamais teria, naquele momento, a consciência sobre ela como tenho hoje... não teria sido tão leviana. Ele perdeu o pai, tornando-se, assim, o responsável direto pela mãe e pela irmã caçula. Tinha também uma irmã mais velha, já casada. Eu também não tinha noção sobre o tamanho dessa responsabilidade frente à família e a sociedade, e como isso se tornaria um peso difícil de carregar nos anos seguintes.

O trabalho do pai era a principal fonte de renda da família, com o falecimento dele, eles passaram a enfrentar sérias dificuldades financeiras. Somente contavam com o imóvel em que moravam, de propriedade deles, e passaram a viver do aluguel do andar superior da casa. Isso porque, pouco tempo antes do pai morrer, meu amigo, que era engenheiro químico como mencionei, tinha pedido demissão do emprego e estava se organizando para ir ao Reino Unido, onde pretendia morar com um amigo, trabalhar e estudar.

Diante dos fatos ocorridos, a viagem foi cancelada, mas o trabalho estava perdido. Foi quando começou a longa busca dele por novas oportunidades. Na época, seu objetivo maior era conseguir garantir o futuro da irmã menor com um bom casamento, mas até para isso era preciso bastante dinheiro, já que são muitos os gastos realizados pela família da noiva, com festa, dotes e mobília do futuro casal (a justificativa para que a quantia “investida” pela família da noiva seja maior que a da família do noivo é que, após o casamento, a mulher passar a ser responsabilidade da família do marido, que deverá suportá-la financeiramente, bem como aos filhos do casal, teoricamente pelo resto da vida).

Desse período eu lembro relativamente bem, porque também enfrentava algumas dificuldades na minha carreira. Eu havia me formado, tendo realizado muito bons estágios ao longo do meu período de faculdade. Havia passado no Exame da OAB. Falava inglês, arranhava o espanhol e o italiano, entendia “alguma coisa” de computadores, e tinha feitos vários cursos na minha área. Saí da universidade com a pretensão de ganhar o mundo, com o ego um tantinho inflado, e certa de que “logo logo” estaria “fazendo dinheiro”. rs

Mas, o mercado não me quis. Findo o último estágio, em uma multinacional onde eu sonhava iniciar carreira, eles não tinham posição pra me oferecer. Foi a minha primeira grande decepção profissional. Me abalou tanto que saí de giro e o ego murchou... rs

Me senti a mais incompetente e insegura das pessoas e isso se refletiu na série de entrevistas que passei a encarar, sempre tendo ao fim um não como resposta. Meu desespero só aumentava com o passar do tempo, a pressão da minha família, etc.

Pra piorar as coisas, a essa altura eu já morava junto com meu namorado e meu pai, com toda razão, achava um verdadeiro absurdo ter que pagar minhas contas... era adulta, formada, mas dependente. Isso me causava grande angústia e, tal qual era incompreensível pra mim, era ainda mais pra minha família, que não entendia os sucessivos fracassos nas minhas tentativas de conseguir um trabalho.

Eles questionavam meu empenho e isso me deprimia mais... Ainda assim, agradeço o suporte que tive deles e, é claro, da pessoa que eu amava e com quem eu dividia minha vida na época... Só que, eu agradeço também ao querido amigo lá do Paquistão, que, na mesma época vivia os mesmos problemas e dilemas, ainda que as responsabilidades fossem diferentes, e ele era o único que efetivamente compreendia tudo aquilo pelo que eu estava passando, pelo simples fato de que ele passava pela mesma situação... Lamentávamos juntos, dávamos apoio recíproco... e assim seguia nossa “amizade”...

Continua no proximo capitulo...=)

2 comentários:

Anônimo disse...

Ai..esta história está cada vez mais bonita. Humana.
Fico à espera do resto!
Beijinhos!

Carol disse...

que fofa
todo comeco de carreia eh complicado ne? ainda mais sobre pressao que vcs dois tinham.. estamos passando o mesmo aqui

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